PERSPECTIVAS

As paisagens concretas fogem às academias disciplinarmente acantonadas; As tutelas nacionais e regionais regem patrimónios sem capacidade executiva e por vezes desinformadas; Os museus estreitam o foco sobre objectos desgarrados. Duas décadas de compilações em SIG nas universidades e nos municípios mantêm-se na esfera estrita de 2 ou 3 operadores e a recente proliferação de informação digital na “nuvem” (“cloud computing)”, de foco nos territórios e seus acervos do Património Natural e Cultural, mantêm-se num estado ilegível de profunda fragmentação e desarticulação.

    As Ciências do Território (ecologias, arqueologias, etnologias, histórias regionais) com aspirações de previsão, de objectividade quantitativa, têm agora pela frente o desafio da simulação virtual (numérica) interactiva (que toma forma grosseiramente esboçada em videojogos) e da restituição teatralizada das reinterpretações experimentalistas vivas (dos gestos de fabrico, uso e de expressão) dos desempenhos do passado humano. A objectivação em Ciências Humanas periga por esquecer-se dos sujeitos, impondo visões unilaterais que a Arte contradiz por vocação (mantendo a História de Arte num limbo difuso). A excessiva tipificação (foco nas tipologias) torna-se cega, perante o único e o histórico e perde actualidade.

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    A DOUBLE-U REPLAY desafia esta inércia neo-positivista e procura articular os mundos da cartografia com o dos palcos expressivos das performances. O território surge-nos como um palco de actores e performances (dos substratos eco-físicos à “espuma” da Cultura Humana, passando pelas Floras e Faunas com quem partilhamos destinos na ruralidade...). Por outro lado instigamos as comunidades, as populações, a não permanecerem passivas, mas em tornarem-se “jogadoras”, propiciando-se como actores informados da reciclagem dos legados.

W Replay Diagrama triangular 800x600

 

Os sentidos do nome

    PLAY” (sem boa tradução em português) é a palavra chave; Define 3 atitudes que procuramos juntar na nossa reapropriação dos Territórios Antigos: representar (artes dramáticas), jogar (lúdica), tocar (música). Dado que o Passado Criativo (Património) nos inspira o “REPLAY” coloca-nos como re-criadores de desempenhos legados. Finalmente (redundando a ideia) o “W” (duplo 'v' ou “double-u”) é expressivo do sentido de “duplo”, do nosso “desdobrar” entre primeira e terceira pessoa, emprestando-nos ao fio condutor que nos informa, inspira e que re-vivemos; “W” (West = Oeste) é também a nossa postura Atlântica, e via de transnacionalidade.

Replay the Monument as if it were a opera by Mozart

Trabalhamos contextos do Património Cultural e Natural do Centro-Oeste Português (e faixa atlântica europeia) mas procuramos reafirmá-los colectivamente como Produções Culturais junto das comunidades, para além dos relatórios, “papers” ou das legendas das galerias dos museus. Visamos uma nova museografia aberta em torno dos “Territórios Cénicos do Passado considerando os legados culturais como conjuntos concretos de actores, desempenhos e palcos de acção.

Territorializar os legados (quer sejam velhos utensílios, estatuetas, igrejas, ou iluminuras, antigas peças de teatro ou música) significa contextualizá-los em termos de paisagem ecológica e social concreta, rearticulando os actores (humanos, animais, plantas, artefactos, entidades abióticas naturais) entre si e com o seu meio inspirador, potenciador, instigador, constrangedor, produtor, manipulador… No fundo, pensar a sua matriz de viabilidade (e de inteligibilidade aos nossos olhos de hoje).

Simular os legados nasce dessa articulação generativa. Queremos compreender re-interpretando de forma viva e completa essa cénica expressiva do passado. Não nos chega descrever a velha partitura de música: Há que restituir de forma íntegra a sua essência pela re-interpretação performativa (com som, movimento, mímica, dança, instrumentação, com verdade sonora e teatral). Parece hoje coisa trivial quando pensamos, por exemplo, numa partitura de Bach… mas que dizer no caso de um monumento, de um bairro histórico, de uma vila romana? A WR quer ir para além da simples descrição disciplinarmente comprometida - Compreender o passado será re-jogá-lo de forma plena.

É neste sentido que nos juntamos. Contextualizar o nosso Património  em novos modelos de recriação holística que (restituídos do fragmentário) possam “funcionar”: Palcos de re-experimentação viva e territórios virtuais simulativos (pela escrita criativa, pela narrativa interactiva, pelo videojogo).