Penafirme 2 limpo2 contrasta 1024

 

Convento de Penafirme (monumento e território) - Arqueologia, Ecologia, Geologia e Museografia Restitutiva e Criativa.

(texto de José Mateus e Paula Queiroz - coordenadores do programa de investigação arqueológica)

 

Prelúdio

Parcialmente engolida pelas dunas, junto ao mar, nas margens do que teria sido o ramal SUL do estuário do Alcabrichel, encontramos hoje as caprichosas ruínas do Convento Velho dos monges eremitas agostinhos de Penafirme.

O topónimo é medieval - pé-na-firme - e sugere-nos uma reedificação, com os pés na terra-firme, de um convento pré-existente que outrora estaria em risco, em solo pantanoso ou abarrancado.

A ruína dialoga vivamente, há muitas gerações, com os habitantes das costas de Torres Vedras. É fonte de um dos imaginários mais ricos e inspirativos do Litoral Oeste. A imagem mental que mais forte nos toca é do terrível momento da sua destruição pelas águas avassaladoras do maremoto, do tsunami, que em 1755 arrasou Lisboa e deixou feridas profundas em toda a nossa Costa.

Agora, desde o outono de 2021, uma equipa de estudiosos propõe-se revelar o monumento esquecido. Os olhares não se fixam só naquelas paredes mas igualmente nas estruturas de paisagem que as rodeiam: as formas dinâmicas do relevo, da vegetação, dos vestígios da ruralidade antiga… Embora vinculados a várias instituições de Investigação, de Educação e das Indústrias criativas, a equipa do Convento Velho agrega-se hoje sob a bandeira da Double-u Replay, uma associação Torreense para promover a cumplicidade criativa entre Ciência, Património e Arte.

O registo rigoroso da ruína é o ponto de partida. Utiliza-se a fotogrametria proporcionada pelos drones ou pelos levantamentos de terreno. A integração cénica virtual, num mosaico, num puzzle de parcelas 3D, é feita em UNREAL, um potente e famoso motor de videojogo. Re-visualiza-se de forma interactiva assim a ruína, nos telemóveis, nos tabletes, nos PCs mas, sobretudo, permite-se assim uma análise e interpretação mais detalhada dos paramentos, da estrutura edificativa, dos materiais construtivos.

O território antigo monástico na sua trama rural e ecológica litoral é investigado pela geoarqueologia, pela paleoecologia, pela arqueologia da paisagem, com atenção aos estratos emergentes e escondidos das dunas, dos lodos fluviais e estuarinos, das formas de erosão das arribas e terraços litorais.

Voltando à ruína há que tentar de forma muito confinada algumas sondagens (em operação cirúrgica) para detectar alguns dos chãos submersos na areia e desenvolver estudos analíticos de uma arqueologia em visão plural, pela arqueometria (estudos de física e química), pela arqueobotânica, pela arqueozoologia, pela petrografia. Perspectiva-se uma visão reconstitutiva do monumento e para dentro daquelas paredes mas também para o espaço artesanal envolvente, das hortas do seu antigo sistema hídrico regadio.

Reconstruir o que foi o convento na sua época de ouro, o período da Restauração, será sempre um puzzle de muitas soluções que o jogo re-criativo poderá viabilizar em videojogo, em maqueta miniatural manuseável.

Finalmente há que re-experienciar emotivamente aquele espaço cénico pela Arte Antiga Re-vivencial.

 

(Clique na imagem para ampliar)

Contexto

Pretende-se desenvolver um primeiro projecto de levantamento detalhado da Ruína do Convento de Penafirme (Torres Vedras) no seu contexto territorial e paisagístico actual e passado. Em foco um segmento coerente (mas diverso) de paisagem, envolvendo o paleo-estuário SUL do Alcabrichel (Sector Santa Rita) com seu actual sistema de praia e dunas litorais, sector vestibular da ribeira do Sorraia, colina e arriba costeira com seus medos encavalitados. Este troço litoral (para além do seu enquadramento natural estuarino, dunar e de arriba rochosa) pretende cobrir a parte mais significativa do “termo próximo” do convento, com sua cerca, edificações diversas, hortas e campos agrícolas adjacentes. Em foco também a evolução paisagística deste sector litoral, no último milénio, com atenção especial às estruturas erosivas e sedimentares superficiais e sua dinâmica evolutiva recente, condicionadora da presença monástica.

 Quatro Principais Objectivos

  1. Produzir uma primeira leitura arqueológica e (arqueo)-ambiental do monumento e seu território de implantação e controlo próximo, procurando colmatar questões essenciais (que ainda prevalecem inspiradas na parca documentação histórica prevalecente), nomeadamente, referentes às possíveis fases construtivas e remodelativas do complexo arruinado da Foz da Ribeira do Sorraia.
  2. Dotar a ruína do Convento Velho de um primeiro acervo de informação arqueográfica pluritemática (de suporte geomático) sobre o monumento e seu território de implantação, no sentido de permitir lançar um futuro programa de escavação, recuperação e musealização do sítio, com sua tripla vocação patrimonial, eco-paisagística e turística.
  3. Dotar a ruína de um primeiro suporte digital interactivo, consubstanciando um primeiro módulo de Museu Virtual de verdadeiro potencial interpretativo, educativo e informativo. Este suporte terá por base a modelação 3D detalhada da ruína e sua virtualização programativa em motor de jogo (UNREAL)
  4. Dotar a ruína de uma maqueta miniatural física, para futuro Museu local e itinerância expositiva na região.

[clique nas imagens-icons para saltar para mais informação]

 

Territorio1 256Ruina1 256Cenografia1 256

Narrativa1 256Personagens1 256AsPerformances 256

 

  

Sub-programas

PARTE I - Reconhecimento e registo
1) Fisionomia detalhada da ruína, análise arqueológica-arquitectural, sondagem prospectiva.

a) Organização e sucessão construtiva do core edificado e anexos (prospecção sistemática e sondagem pontual).
b) Levantamento fotogramétrico da ruína (escala local detalhada das estruturas emergentes), em cobertura terrestre e em drone.
c) Análise estratigráfica paramental (unidades estratigráficas murárias (estruturais, de revestimento e acabamento), fases construtivas, destrutivas, reconstrutivas, restaurativas).
d) Revisão prospectiva e selectiva do acervo histórico-documental preservado na Torre do Tombo ( https://digitarq.arquivos.pt/details?id=1375545 ) no que respeita a descrições coevas sobre o sítio, suas funcionalidades, ocupantes, obras e remodelações, aforamentos e arrendamentos.

2) Eco-fisiografia da envolvente e partição natural

a) Levantamento fotogramétrico de toda a envolvente (até 1km quadrado; escala regional), montagem do DEM respectivo e cartografia sumária de unidades de paisagem.
b) Habitats litorais actuais (padrões corológicos, estrutura, biodiversidade, dinâmica (anual, decadal, secular), cartografia)

3) Paleoecologia litoral (últimos séculos) com recurso a sondagens curtas (por carotagem ou amostragem em bloco superficial ou em cortes expostos)

4) Partição territorial
Prospecção e mapeamento de estruturas extra-cerca (exploração pedonal com suporte de visão aérea por drone) com pontual sondagem de aferição geo-arqueológica.

PARTE II - Restituição virtual e em maquete/diorama em miniatura

5) Modelação 3D (edição e integração das nuvens de pontos fotogramétricos)
6) Virtualização programada (objectivação responsiva das entidades arqueológicas)
7) Restituição em vRRR (virtual realistic replayable replica)
8) Restituição em mRRR (réplica realista rejogável em maqueta).

 

Descrição técnico-científica


O projecto Convento Velho desdobra-se em três grandes vertentes: O sítio monumental, o seu território, a réplica museográfica. Esta investigação é precursora (e instigadora) de um futuro possível programa de escavação, conservação e recuperação da ruína que tem um grande potencial de impacte regional patrimonialista.

 

O Monumento512

 

I - monumento [clique na imagem]

Este sub-programa foca-se no património monástico edificado e seu espaço envolvente próximo (intra-cerca). Envolve: historiografia; Compilação de fotografia antiga; reconhecimento de salvados / recuperados pós-1755; registo fotográfico e vídeo da ruína; cobertura fotogramétrica e modelação 3D; prospecção superficial intra-muros; sondagens parciais; arqueometria (dos elementos construtivos); estudos de palinologia (pólen fóssil) e macro-paleobotânica (madeiras, sementes e frutos), espólio arqueológico (a recolher). 

 

 II - território extra-muros

[clique na imagem]Territorio 512

Saltamos aqui para fora da cerca e procuramos entender as unidades de paisagem circundante e sua territorialidade. Este sub-programa envolve: Eco-fisiografia, vegetação e flora de Santa Rita Actual; Estudo (estratigráfico) dos terraços baixos da ribeira do Sorraia; Estudo paleoecológico da paleolaguna (após sondagem e amostragem); Detecção e estudo de estruturas de ocupação antigas nas imediações do Convento.

 

 

III - réplicas museográficas (virtual e miniatural) [clique na imagem]

ReplicaConvento 512Procuramos que um registo 3D exaustivo do sítio (monumento e envolvente) se possa reformatar num conjunto de cenografias funcionalmente coerentes (e rejogáveis em prole da pluralidade de soluções para a reconstituiçao do Passado) de acordo com o conceito de Arqueologia Cénica. Dois “sabores”: Virtualidade e Maquete em miniatura.